Fronteiras Interdisciplinares da Antiguidade e suas Representações

Projetos de pesquisa

Atualmente, há dois projetos de pesquisa em andamento, coordenados pela professora Leni Ribeiro Leite; dois projetos coordenados pelo professor Fabio da Silva Fortes; aos quais se vinculam outros membros do LIMES.

Representações retóricas do poder imperial no Principado Romano

Este projeto nasce como continuidade do projeto "O império e imperador na literatura flaviana", com o escopo de expandir para além dos limites da literatura da Dinastia Flaviana as reflexões acerca das representações literárias, informadas pela estrutura retórica antiga, das relações de poder entre os diferentes grupos sociais dos séculos I a.C. a II d.C. na cidade de Roma. O conhecimento dos tratados da retórica, aqui entendida não como um ornamento ou floreio, acepção retida pelo termo no mundo moderno, mas como uma teoria e uma prática da organização do discurso, nos levou à observação da importância crescente do terceiro gênero da retórica, o epidítico, durante o período imperial (GIESEN, 2016). O elogio e o vitupério, considerados no período republicano como menos romanos e menos dignos de nota, ganharam paulatinamente em vigor e importância, ao ponto de serem escritos, já no século IV, dois tratados exclusivamente sobre este gênero. O elogio foi, durante o período, não um detalhe, mas parte fundamental da estrutura de certos tipos de texto. Esta questão nos leva à observação de que as imagens dos imperadores são, em geral, construídas a partir de textos em prosa, legados pela tradição como historiográficos. Abrem-se assim duas áreas de pesquisa: uma, a da importância menor dada aos gêneros humildes na sua relação com o império e a importância de se entender o gênero como parte do lugar de fala de cada texto; outra, a do preconceito da contemporaneidade nossa com o elogio, e o lugar do elogio na retórica antiga e na política e gêneros literários/retóricos antigos. Assim, se durante o período anterior nos debruçamos sobre estas questões pensando em especial o imperador Domiciano, entramos em contato também com pesquisadores que buscavam as mesmas reflexões em períodos adjacentes, como é o caso de Nero (BELCHIOR, 2016). Entretanto, aquelas pesquisas ainda, em muitos casos, privilegiam um corpus historiográfico e/ou em prosa. Procuramos, neste novo impulso, observar as representações retoricamente conformadas dos imperadores durante todo o período do Principado Romano, preferencialmente a partir de fontes menos compulsadas, porque consideradas genericamente pouco comprometidas com a realidade (como a sátira ou a épica mitológica).

Membros deste projeto: Leni Ribeiro Leite (coordenadora), Kátia Regina Giesen, Marihá Barbosa e Castro, Natan Henrique Taveira Baptista, Camilla Paulino da Silva, Alessandro Carvalho da Silva Oliveira, Iana Cordeiro, Irlan de Sousa Cotrim, Fabrizia Nicoli Dias

Retórica e permanência: a recepção dos elementos retóricos clássicos na literatura ocidental

Resumo: Desde fins do século XX, pesquisadores da área dos estudos clássicos começaram a debruçar seu olhar sobre os estudos de recepção. Sem dúvida pelo influxo da teoria da recepção, mas rapidamente dela se afastando, os estudos clássicos passaram a encampar estudos de uma vasta gama de material pós-clássico tradicionalmente estudado em outras áreas sob diversas nomenclaturas: história da leitura/do livro, estudos de tradução, estudos pós-coloniais, medievais, novilatinos. Na prática, ganhou-se a percepção de que o profissional conhecedor do mundo antigo, em especial aqui o grego e o latino, tinha algo a contribuir no estudo de outros objetos que não os da Antiguidade per se, porque o clássico e o antigo, longe de morrer e desaparecer, haviam deixado uma marca, haviam permanecido de alguma forma na sociedade ocidental e em seus produtos culturais. Assim, os estudos clássicos, na virada do milênio, veem sua área de atuação ampliada, e o próprio conceito de clássico, e portanto de estudos clássicos, sofreu uma transformação. Reflexos dessa nova atitude frente à área são, para citar alguns exemplos, a presença de uma linha de estudos de recepção reconhecida pela American Philological Association; a subárea reception, acrescida em 2001 ao Research Assessment Exercise no Reino Unido; o lançamento do Companion to Classical Receptions em 2008, como parte da respeitada coleção Blackwell Companions to the Ancient World; o lançamento da revista acadêmica Classical Receptions Journal pela Oxford, em 2009. No Brasil, a área vem despertando algum interesse nesta última década, alavancado por diversas pesquisas que buscam ligar o elemento clássico a objetos culturais de outras temporalidades. Nossa pesquisa busca, a partir das teorias de Martindale (1993), observar a permanência de conceitos da Retórica Antiga, aqui entendida não como ornamento ou detalhe mas como uma teoria e uma prática do discurso na Antiguidade, a objetos culturais posteriores.

Membros deste projeto: Leni Ribeiro Leite (coordenadora), Julio Morguetti Neto, Bárbara Tofoli

Paradigmas do empreendimento linguístico: história e filosofia das ciências da linguagem

Resumo: A Linguística se define como campo científico no final do século XIX. Se, em sua origem, teve como paradigma o estudo imanente das línguas e de seus sistemas, o século XX viu florescer vertentes históricas, discursivas, cognitivas, textuais, entre outras, que não somente ampliaram significativamente o escopo daquilo que hoje se pode compreender como "Linguística", mas também engendrou tensões disciplinares internas e externas quanto ao domínio epistemológico desse saber, suas interfaces com outras disciplinas, seus métodos e objetos. O presente projeto de pesquisa tem por meta oferecer uma reflexão sobre as bases epistemológicas que definem a linguística enquanto um saber científico, abarcando pesquisas que se debrucem, por um lado, sobre a definição histórica de seus objetos, práticas e métodos segundo arcabouço teórico dos Estudos Clássicos e da Historiografia da Linguística e, por outro, sobre as relações entre as ciências da linguagem e as reflexões filosóficas das quais decorrem suas grandes questões:  a relação entre linguagem e realidade, linguagem e ética, linguagem e representação do pensamento, entre outras  segundo arcabouço teórico da Filosofia da Linguagem. O corpus privilegiado  é formado sobretudo por documentos e textos que tematizam a linguagem, dos antigos filósofos e gramáticos gregos, até formulações mais recentes no âmbito dessa tradição.

Membros deste projeto: Fabio da Silva Fortes (coordenador), Kevin Ribeiro Borges, Christiano Pereira de Almeida, Rodrigo Pinto de Brito, Fernando Adão de Sá Freitas, Filipe Cianconi Rodrigues

A dialética e a tekhnología em Platão: divisas e confluências entre o "fazer", o "saber" e o "pensar"

Resumo: A noção de tékhne perpassa reflexões presentes praticamente em todas as fases da obra de Platão, inclusive na de maior maturidade, que consigna particularmente uma atenção à dialética. Não nos parece, portanto, desarrazoado pensar que a formulação de um método dialético possa se relacionar, em alguma medida, com a tekhnología platônica, isto é, com a reflexão teórica sobre as tékhnai, que, por outro lado, é bastante prolífica desde os diálogos de juventude. Se a configuração da tékhne em Platão não se dissocia da noção de ciência (epistéme); e se dialética também está associada a um método (um méthodos, um caminho, nos termos da República), para a aquisição do conhecimento; seria possível pensar, unindo essas duas premissas, em uma vinculação entre a dialética e a tekhnología de Platão? Se sim, de que modo poderíamos determinar os limites, as afinidades, as congruências ou dessemelhanças entre os dominios da tékhne e da dialektiké? Seria a noção de tékhne um desenvolvimento protréptico para a noção mais avançada de dialética, a emergir nos diálogos tardios, já no âmago da reflexão epistemológica da República, ou se trata, antes, de noções paralelas no âmbito da epistemologia platônica? Além disso, que tipo de compromissos o discurso perì tékhnes em Platão mantém com a tradição filosófica grega? Tendo como norte essas questões, neste projeto de pesquisa que desenvolvemos no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, propomos realizar a investigação em torno dos conceitos de tékhne e dialektiké em Platão, buscando iluminar as relações entre as diferentes dimensões do saber científico e filosófico.

Membros deste projeto: Fabio da Silva Fortes (coordenador), Daniela Brinati, Frederico Krepe da Silva, Patrick Silva de Carvalho e Bruno Patrici Silva Polito

Intertextualidade e arte alusiva nos textos de retórica e poesia das literaturas grega e latina
 
São objetos de interesse do projeto de pesquisa tanto o fenômeno da intertextualidade, concebida como propriedade inescapável de qualquer texto e qualquer discurso, quanto a arte alusiva, enquanto técnicas de ref(v)erência intencional e adicional à fruição da literatura, concentrando-se nas literaturas grega e latina. Considera-se que o modus operandi intertextual não apenas configura o nascimento do sistema literário no Ocidente, mas se constitui como principal meio de transmissão desses textos para a posteridade, e que a imitação e a emulação representam, ademais, os instrumentos pelos quais a intertextualidade se fixou no sistema literário ocidental e encontrou realizações antológicas na Antiguidade. A pesquisa pretende a) contribuir para o cenário atual de pesquisas sobre intertextualidade, arte alusiva e interculturalismo, oferecendo exemplos da utilização desses recursos no contexto da gênese da literatura ocidental, relacionando-os às suas realizações posteriores; b) estimular a produção de estudos intertextuais que incluam a literatura grega e contemplem, pelo viés dos estudos de recepção, um possível diálogo de mão-dupla com a literatura moderna, colaborando para a desconstrução da norma historicista na pesquisa sobre Antiguidade; c) coletar e organizar informações sobre os procedimentos de incorporação intergenérica entre poesia e retórica, com ênfase inicial em referências e citações poéticas encontradas na prosa didática do período imperial (a Institutio oratoria de Quintiliano, especificamente); d) integrar a pesquisa sobre intertextualidade às mais variadas formas de crítica cultural, ampliando a própria noção de texto; e) aplicar aos textos gregos, especialmente dos períodos arcaico e clássico, leituras ideológicas de gênero e intertextualidade que se provaram tão bem sucedidas nos estudos latinos. Os pressupostos que orientam o projeto são os seguintes: a tradição da literatura clássica representa um discurso em que comparecem importantes relações sociais de poder, tornando-se um ponto de vista privilegiado para compreender os processos de canonização e exclusão dos textos, a multiplicidade do acervo literário, histórico, artístico e cultural; os antigos não somente elaboraram e desenvolveram modelos textuais que foram emulados pela posteridade, mas estabeleceram as próprias bases da intertextualidade, pela qual se institui a condição mesma da legibilidade literária; os ecos dos discursos produzidos na Antiguidade estão nas bases de todo tipo de produção textual.
 
Membros deste projeto: Charlene Martins Miotti (coordenadora); Jefferson da Silva Pontes; Beatriz Rezende Lara Pinton.
 

Reflexões teóricas sobre práticas discursivas no Mundo Antigo

Tendo a interdisciplinaridade como categoria analítica principal, esta linha congrega projetos que se debruçam sobre os diferentes gêneros técnicos e filosóficos da Antiguidade Grega e Latina, com ênfase no estudo de suas interrelações, na exegese e interpretação de seus conceitos e na tradução e comentário de textos relevantes.

Membros deste projeto: Charlene Martins Miotti (coordenadora); Ana Clara Vizeu Lopes; Bruno Amaro Lacerda.

Novas perspectivas sobre ensino de línguas e literaturas clássicas no Brasil
 
Ao tomar a palavra, convém considerar o perfil da audiência e as circunstâncias em que o discurso se realiza, já ensinavam os antigos mestres de retórica, de Aristóteles a Quintiliano. Se professores e oradores têm em comum a fala como instrumento de persuasão, as perguntas que amparam nossa atuação moderna não se distanciam muito do roteiro aconselhado para o exercício da eloquência na Antiguidade: o que, para quem, com quais objetivos, em (ou sob) quais condições estamos ensinando? Nossa proposta de abordagem do tema está fundamentada em dois eixos principais: 1) a percepção de que abundam estudos, debates e estratégias voltados para o ensino de línguas (antigas, inclusive), mas o mesmo interesse não se verifica quanto ao ensino de literatura – em parte porque subsiste a defesa de certa “intransitividade” (DURÃO, 2017) na prática docente da matéria (especialmente nas universidades), em parte porque as soluções objetivas para a inovação em sala de aula costumam ser escassas, trabalhosas ou custosas; 2) produção de novos materiais de apoio e propostas de abordagens concretas para o ensino de línguas e literaturas clássicas, com ênfase para a chamada “Aprendizagem Baseada em Equipes” (ABE ou TBL, Team Based Learning), cuja dinâmica se funda no diálogo em grupos de 5 a 7 estudantes que trabalharão simultaneamente sobre um mesmo texto acordado (lido com antecedência), cabendo ao professor o papel de facilitador para a aprendizagem, enquanto o aluno assume a função de principal agente na construção da reflexão e na busca por respostas (MICHAELSEN et al., 1997).

Membros deste projeto: Charlene Martins Miotti (coordenadora).

Por que acreditar em mim? Relações entre autoria e autoridade na historiografia antiga e no mundo pós-moderno
 
Este projeto pretende investigar a relação entre a autoria do texto histórico, individual e contextualizada em uma tradição de regras e códigos, e a autoridade nomeada, pretendida e reconhecida pelo leitor, em dois momentos: a Antiguidade Clássica e o ambiente digital do início do século XXI. Para o primeiro momento, os topoi do estudo da questão – imparcialidade, experiência, domínio do estilo e de pesquisa, apresentação dos relatos das testemunhas e uso das fontes – adquirem um novo sentido quando repensados sob a luz da relação entre autoria e autoridade. Na escrita da história através do meio digital característico da pós-modernidade, em que a Wikipédia é talvez o exemplo mais emblemático, essas duas categorias se dissociam no sentido tradicional e assumem novos funcionamentos. Pretendemos, assim, examinar como se dá a última no sentido de resposta, desafio e repensar da primeira, como forma de examinar o contexto da pós-modernidade para ler a historiografia antiga sob novos olhos.
 
Membros deste projeto: Juliana Bastos Marques (coordenadora)
 

Sentidos e itinerários de uma tradição perdida. A recepção da Antiguidade no debate político da imprensa sul-rio-grandense da primeira metade do XIX (1808-1845): Rio Grande do Sul, Brasil e Portugal

O objetivo do projeto de pesquisa é melhor compreender a recepção da Antiguidade pela imprensa sul-rio-grandense da primeira metade do século XIX pelo estudo comparativo com a mesma recepção por parte de jornais brasileiros e portugueses daquele período. O marco inicial é o surgimento da imprensa periódica brasileira (1808) e o final é o término da chamada “Revolução Farroupilha”(1835-1845), um dos diversos movimentos sediciosos que convulsionaram a Regência (1831-1840) e os primeiros anos do reinado de D. Pedro II. A análise até o momento realizada de jornais gaúchos permitiu selecionar um ponto genérico de abordagem: a relação entre a natureza da recepção dos Antigos e o posicionamento político dos periódicos. Procurar-se-á determinar se havia uma relação, entre a defesa de determinado regime político (Monarquia e República) e certa apropriação da Antiguidade, com especial atenção para o tema da tirania grega. Além disso, considerando o perfil intelectual dos redatores dos periódicos analisados, o estudo da formação intelectual promovida na antiga metrópole também se apresenta como de grande relevância para a análise da invocação dos Antigos na conjuntura de constituição do país e da nação brasileiros. O projeto se enquadra no âmbito da cooperação entre o Programa de Pós-graduação em História de minha Universidade e o Centro de Humanidades (CHAM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, visando desenvolver a cooperação acadêmica centrada em Estudos de Recepção. Entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019 realizarei um primeiro estágio de pesquisa de pós-doutoramento junto ao Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, ocasião em que pesquisarei jornais, documentação e bibliografia portuguesa. Dentro desta proposta, planejo duas outras visitas a Lisboa para complementar o levantamento de dados, em arquivos e bibliotecas. No Brasil, a pesquisa consistirá principalmente na investigação de jornais disponíveis na internet para melhor ponderar a apropriação da Antiguidade na imprensa examinada.

Membros deste projeto: Anderson Zalewski Vargas

Gêneros textuais da Antiguidade e sua recepção

Esta linha congrega os projetos que se dedicam a textos da Antiguidade a partir das categorias de gênero, de performance e de recepção (nas suas mais variadas modalidades: aculturação, adaptação, apropriação, tradução, versão etc.), privilegiando a relação entre eles no eixo temporal, ao problematizar os conceitos de permanência, de releitura, de tradição, de modelo e de referência.

Membros deste projeto: Charlene Martins Miotti (coordenadora); Isabella Cunha Lopes; Jéssica Frutuoso Mello.
Acesso à informação
Transparência Pública

© 2013 Universidade Federal do Espírito Santo. Todos os direitos reservados.
Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória - ES | CEP 29075-910